segunda-feira, 19 de março de 2012

História do Adestramento

História do Adestramento

Os cães acompanham os homens desde os tempos mais remotos. Há registro, nas cavernas, da associação, para trabalho mútuo, dos nossos ancestrais com os lobos. A utilização de cães, como auxiliares de trabalho, começou com os caçadores ingleses e criadores de cavalos no final do século XVIII quando começaram a utilizar os foxhounds e os beagles nas caçadas imperiais.

Por ocasião da 2ª Grande Guerra Mundial (1939-1945) os alemães, que já treinavam cães para caça, tiveram a idéia de aproveitar as habilidades dos pastores alemães como cães de guerra.

Inicialmente treinavam os cães a se alimentarem embaixo dos tanques de guerra, depois deixavam-nos com fome, recusando-lhes a alimentação por três a quatro dias e levavam-nos aos campos de batalha com uma bomba atada ao colete. Os cães famintos, ao visualizarem os tanques inimigos, corriam para obter os alimentos sob os tanques, quando eram sacrificados.

Com a grande baixa de soldados, a guarda das fronteiras com a França, Holanda, Bélgica e Espanha foi exercida com a ajuda de 33.500 cães adestrados entre pastores alemães e dobermans, quando passaram à função de guarda.

Mesmo depois de assinado o armistício, ainda que, com um grande avanço tecnológico dos meios de comunicação, o crescente aumento de veículos e a grande sofisticação do armamento não mais foi possível dispensar a função de guarda dos cães.

O desenvolvimento do adestramento no pós-guerra foi atribuído ao crescimento da criminalidade mundial devido ao grande desnível socioeconômico conseqüente do êxodo rural e do grande desenvolvimento industrial e urbano.

Surgem, então, as grandes escolas policial-militares, para adestramento de cães de polícia, quando “pegou” o apelido do pastor alemão de “cão policial”.

Passada a fase crítica do pós-guerra, nos anos 60, equilibrou-se a economia européia e essa grande quantidade de cães policiais foi perdendo suas funções. Nesse período, os criadores particulares começaram a se interessar em promover competições de obediência, quando surgiu o esporte do adestramento de cães de guarda, bem como, as entidades como a VDH (Verrein für das Deutsche Hundewesen) desenvolveram-se sobremaneira. Começou então a participação, em competições, de outras raças como o dogue alemão, bóxer, schnauzer, leonberger, rottweiler etc.

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Bruno Tausz
C
onsultor e Colaborador em

A Importância da Obediência

Nos anos 70 começou, na Alemanha, o movimento de conscientização e preservação do meio ambiente e, com isso, o desenvolvimento da ecologia e da etologia, cujo pai Konrad Lorenz já vinha, desenvolvendo pesquisas do comportamento animal sem a interferência humana. Conseqüentemente, a óptica arraigada do animal selvagem como uma fera inimiga do homem começou a mudar. Com essas idéias, passou-se a estudar o comportamento dos animais como companheiros de vida na terra.

Os treinadores alemães começaram a utilizar conhecimentos de etologia no treinamento de cães de guarda conseguindo sensíveis progressos. Esse conhecimento levou os treinadores à preocupação com a autoconfiança dos cães que fossem participar de provas de ataque, tornando o adestramento de cães de guarda um esporte.

A Inglaterra levou essas idéias mais além e, com base nos concursos hípicos, Peter Lewis lançou, em 1978, através do seu livro “The Agility Dog International”, uma nova modalidade de adestramento: o Agility, no qual, sequer se utilizavam coleiras e guias. O cão teria que realizar um percurso sozinho, sem o menor auxílio do ser humano, como o fazem os cães de circo.

Aqui no Brasil, devido à cultura latina/machista, essa mudança foi lenta, relutante e persistente. Entre os treinadores o conceito de cão de guarda era visto como cão de ataque mais do que como cão de defesa.

Foi esta a razão da publicação do livro “Adestramento Sem Castigo” (1986), que trata o relacionamento com os cães, sob o prisma das dificuldades dos cães em compreender e aceitar os comandos humanos. Foi abolido o comando militar e introduzido o diálogo com o aprendizado da linguagem canina.

Esse conceito foi associado à contra-indicação de se treinar um cão para ataque e à aplicação do conceito de defesa pessoal, semelhante ao das artes marciais, como um esporte.

A idéia de ensinar um cão a morder me soava como um absurdo tão grande quanto ao de ensinar um pássaro a voar.

Como, instintivamente, todos os cães sabem brigar, passei a divulgar o conceito de ensinar aos cães como se defender dos truques humanos de briga. Um cão não sabe dar uma gravata, rasteira, soco, chute, paulada, facada, tiro etc. ele só sabe morder.

Com o conceito de cão de guarda como um esporte, os cães aprendem a defender-se sem serem, em princípio, agressivos. Os cães, antes atiçados para morder por ojeriza a estranhos, tornavam-se neuróticos e assustados, com medo das pessoas e por isso mordiam com uma freqüência assustadora. O cão que aprendeu como lutar, apenas, contra os golpes humanos teve autoconfiança e tranqüilidade suficiente para discernir uma ameaça verdadeira de uma falsa.

Daí para frente foi mais fácil a erradicação do conceito da necessidade de produzir um cão feroz como a única maneira de treinar um cão para guarda.

Em todo o mundo desenvolveu-se uma outra modalidade de adestramento: o treinamento de cães auxiliares para deficientes físicos com muito sucesso.

Nós participamos desse processo como pioneiros no Brasil do treinamento de cães-guia no final dos anos 80. Na foto aparece a cantora Kátia com seu schnauzer gigante.







Raças de Porte Grande e Pequeno no Brasil

Como as pessoas não estão habituadas a mandar seu cão para a Escola, apesar de considerá-lo como “seu filho”, o conceito de adestramento ficou muito ligado ao treinamento de cão de guarda.

É de opinião da maioria que, adestrar significa fazer o cão “ficar brabo”.
Apenas há bem pouco tempo os proprietários de raças como cocker spaniel, poodle, pug, beagle, yorkshire, westie, fox terrier, schnauzer miniatura e pinscher começaram a trazer seus cães para a escola.

No entanto, a grande maioria das pessoas tem problemas com seus bichos de estimação.

Quando traz, em último caso, seus cães para treinamento educacional as reclamações são as mesmas: meu cão rói todos os meus móveis, faz xixi pela casa inteira, late a noite toda e não deixa ninguém dormir, puxa na guia quando vou passear com ele, morde o calcanhar da empregada, faz buraco no jardim, puxa a roupa na corda, come todos os meus sapatos, não deixa ninguém chegar perto quando está comendo, sobe no sofá e em cima das pessoas, pula em cima de mim, não atende quando eu chamo... o que eu faço?

Como os cães são pequenos, a grande maioria dos donos tenta contornar esses problemas, mesmo a custa de alguns cabelos brancos.

Os cães de grande porte, entretanto, por assustarem seus donos na primeira rosnada fazem com que os tragam imediatamente para a escola.

Por causa da preocupação com a preservação da integridade física e mental dos animais, começou um movimento de socialização dos cães para melhorar a convivência deles conosco, já que são, sabidamente, auxiliares terapeutas das neuroses do nosso mundo atual (Dra. Nise da Silveira, psiquiatra, psicoterapeuta no setor de T.O. do Hospital Psiquiátrico Engenho de Dentro, da qual fui colaborador).
Nessa época, os treinadores não se interessavam em cães de pequeno e médio porte por considerá-los “cachorrinhos de madama” e, treiná-los, ficava feio para sua figura de valente domador de feras incontroláveis.

Esses pequenos cães têm os mesmos problemas dos grandes, com a diferença que não representam uma ameaça de vida. Em casa, eram tratados como “filhos” e, até hoje, existem pais que batem nos filhos para ensinar-lhes boas maneiras. Porque não bater nos cães?

Por volta de 1990 decidi estender os cursos aos cães de pequeno e médio porte para proporcionar-lhes a oportunidade de aprenderem como é que o ser humano gosta de conviver com eles. Nessa mesma oportunidade introduzi, também, a idéia de orientar o proprietário para que ele começasse a perceber a nova óptica do comportamento e dos sentimentos dos seus próprios cães. Com isto, consegui divulgar o método de Adestramento Sem Castigo que dá um resultado, realmente, inacreditável. Tão inacreditável que meus colegas treinadores, por não acreditarem, diziam que eu espancava os cães para conseguir essa fantástica obediência num tempo 80% mais curto que o método antigo.

Socialização


Paralelamente a esta nova filosofia de adestramento, introduzi a necessidade dos cães serem socialmente educados, principalmente, pelos problemas que meus clientes enfrentavam em condomínios e isso incluía, tanto os cães considerados de guarda de médio e grande porte, quanto os de pequeno porte que incomodavam os vizinhos com seus latidos histéricos, fugas freqüentes e os buracos nos jardins.

Em Zurich, Suíça, encontrei cães entrando, tranqüilamente, com seus donos em lojas de departamentos, lancherias, restaurantes e até cinemas.

Aqui, estamos, ainda hoje, tendo dificuldades em aprovar uma lei para que os proprietários de cães-guia de cegos possam entrar em coletivos, lojas e restaurantes, exclusivamente por falta de educação da nossa população canina.

Ainda transferimos aos nossos cães as nossas neuroses e as nossas frustrações. Outro dia foi divulgado pela internet, e até pelo Fantástico, fotos de cães com seus donos, cara de um focinho do outro. Não é por acaso! Tanto os donos procuram cães-deuses feitos à sua imagem e semelhança, quanto os cães procuram proporcionar aos seus “amos” todos os seus anseios. Os cães se esforçam por imitar seus “pais” da mesma forma como as crianças. O grande problema é que nós só sabemos explicar-lhes o que não gostamos e eles aprendem rapidamente tudo o que nos incomoda.

Quando ficamos intimamente orgulhosos porque nosso cão adolescente tenta nos defender de um estranho, não conseguimos perceber que estamos incentivando a agressão contra pessoas, só pelo fato de serem estranhas.


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