segunda-feira, 19 de março de 2012

Estados mentais.

Estados mentais.

Outro conceito muito falado e pouco entendido é ZANSHIN [残心].
Como sempre, vamos entender o que significa a palavra e depois elaborar um comentário que fundamente o termo em questão.
ZANSHIN [残心], onde
  • ZAN [残] “Remanescente, que fica”
  • SHIN [心] “Espírito”
Assim sendo, ZANSHIN [残心] significa “Espírito remanescente”.


“Mas o que isso significa?!”
Em artes marciais japonesas (não sei o suficiente sobre outras artes marciais de outros países) existem estados de consciência que são desenvolvidos ou adquiridos com a prática constante da arte que escolhemos. Entre alguns estados mentais específicos, tomemos os casos do MOKUSŌ [黙想] e ZANSHIN [残心].

O primeiro estado mental que conhecemos é o MOKUSŌ [黙想] “Pensamento silencioso” – Muito importante como degrau inicial para um estado mental posterior, pois ensina à mente a capacidade de direcionar, concentrar a atenção a um único ponto. Neste estado estamos completamente conscientes da nossa posição e de alguns metros a nossa volta. A mente está fixa em um determinado objetivo – concentrada nos movimentos (em caso de Kihon [基本] / Kata [型]) ou concentrada no adversário em caso de combate (Kumite [組手]).
Mesmo assim, a mente está livre e focalizada (“Focus”) ao mesmo tempo.

O segundo estado mental é o ZANSHIN [残心]. Está ao mesmo nível mental do MOKUSŌ [黙想], mas é “uma consequência de um evento“, para o qual deve-se manter a mente direcionada. Por exemplo, atingimos o adversário com uma técnica… nos milésimos de segundo seguintes estamos num estado de ZANSHIN [残心] para saber se a técnica foi efetiva e atingiu o objetivo ou se o adversário vai contra-atacar. Essa “atenção que fica” após o evento, a “expectativa do resultado” é ZANSHIN [残心].

Quando terminamos um Kata [型], ficamos na expectativa da próxima voz de comando, seja o comando para uma nova execução do Kata [型] / técnica quer seja o comando YASUME [休め] “descansar”.
O terceiro estado mental é MUSHIN [無心] “o não-eu”, “o não-espírito”, “o não-pensamento”.

Este é o estado mental mais elevado que pode atingir o Karateka 空手家 ou qualquer outro praticante de artes marciais japonesas.
Esta forma de estar advém da prática da meditação e da “compreensão do todo” e onde esta compreensão é a “não-compreensão do todo”. Como o próprio caminho do Buda, esta natureza faz parte do que somos e, como tal, pode ser desenvolvida pela prática consciente.
Permitam-me agora abrir uma única exceção sobre o que eu sempre digo a respeito da transcendência nas artes marciais japonesas, porque é apenas neste único ponto onde podemos realmente encontrar a trancendência no Karatê.
Contudo, só irá entender este estado mental aqueles que tiverem um conhecimento religioso búdico. É por esse motivo que eu omito conscientemente esta parte a nível de prática e teoria do ensino ocidental.
É o estado onde a “concentração” é a “não-concentração”, onde o “eu” é o “não-eu”, onde os “fenômenos são o vazio” e “o vazio são os fenômenos”…
A compreensão sincera do Maka Hannya Haramita Shingyô 摩訶般若波羅蜜多心経 ”O Sutra do Coração”… O estudo das escrituras búdicas.
Nesse estado podemos atingir um estado próximo à iluminação espiritual através do combate.
Qualquer referência à religião está fora de questão para o ensino ocidental de artes marciais porque não temos conhecimento efetivo a respeito deste assunto. Portanto, este assunto não volta mais a ser comentado.

Para efeitos de karate-dô contemporâneo, para nós ocidentais e para os artigos por mim publicados, os estados mentais a serem atingidos pela prática constante do Karate-dô passam a ser apenas o Mokusô e o Zanshin.
Assim sendo, voltando ao assunto conclusão do Kata, ouvir o comando YAME [止め] NÃO significa que se pode sair da posição ou abandonar o estado mental correto (ZANSHIN [残心])!

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