domingo, 27 de outubro de 2013

Clarice Lispector inspira a série "Correio Feminino" no "Fantástico

Crônicas escritas pela autora nas décadas de 1950 e 1960 foram adaptadas para série que estreia neste domingo, às 20h45min, na RBS TV
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Clarice Lispector inspira a série "Correio Feminino" no "Fantástico" DIVULGAÇÃO/TV Globo/DivulgaçãoFoto: DIVULGAÇÃO / TV Globo/DivulgaçãoSeria possível que dicas de sedução, truques de beleza, ensinamentos de moda e conselhos escritos há cinco décadas ainda façam sentido no universo feminino atual? OFantástico quer provar que sim ao apresentar sua nova série, Correio Feminino, a partir das 20h45min deste domingo, na RBS TV. Com adaptação de Maria Camargo e direção de Luiz Fernando Carvalho, o especial de oito episódios é inspirado em crônicas escritas por Clarice Lispector, sob o pseudônimo de Helen Palmer, para jornais das décadas de 1950 e 1960 e compiladas nas obras Correio Feminino Só Para Mulheres.
– Esse trabalho permite uma reflexão: até que ponto as questões do feminino foram resolvidas? – questiona Luiz Fernando Carvalho, diretor da série, para quem adaptar Clarice para a TV era um sonho antigo.
No elenco, estão as atrizes Maria Fernanda Cândido, Alessandra Maestrini, Luiza Brunet e a top gaúcha Cintia Dicker.
Maria Fernanda Cândido dá vida a Helen Palmer. É ela quem narra todos os episódios – nunca aparece de frente, apenas em pedaços. Na adaptação, ela é apresentadora de um programa de rádio e TV e sua voz representa uma figura afetuosa, sempre pronta a socorrer leitoras aflitas. Helen Palmer, por escrito, se expressava de forma coloquial e direta, cúmplice com as leitoras.
Na série, Helen se relaciona com uma representação de três gerações de mulheres: a top model Cintia Dicker é a "adolescente"; a ex-modelo Luiza Brunet, a "mulher madura", e a atriz Alessandra Maestrini, a "mulher jovem". Elas simbolizam as várias facetas do feminino e vão dialogar com a narrativa em off de Helen Palmer, sem se encontrarem.
As fases femininasLuiza Brunet, a mulher madura da série, se encantou com o projeto desde o início.
– Minha personagem toca muito na questão de se olhar no espelho e perceber que está envelhecendo. Eu me entreguei. Chorei com todas as minhas lágrimas, com todo o meu corpo. E, tudo que eu vivi nas gravações, tudo que minha personagem representa, é, de fato, muito atual – admite Luiza.
Ao longo dos episódios, a "adolescente" Cintia percorreu o caminho de uma menina cheia de primeiras vezes, com uma sensualidade à flor da pele.
– Me identifiquei especialmente, com uma cena que gravei, porque sempre tive o costume de passar muito perfume e, em um episódio, Helen Palmer aconselha a não exagerar nunca, para não deixar o perfume entrar nos lugares antes de você – revela Cintia.
Alessandra interpreta uma mulher comum que se casa e constitui uma família.
– A mulher hoje continua querendo ser amada, admirada. Continuamos com a mesma busca, mas de outra maneira – opina Alessandra.
A adaptação– Quando eu imaginei a série, não sabia exatamente que formato teria. Foi uma ideia que girou na minha cabeça por alguns anos – conta Carvalho.
Nos almanaques, não existe a ideia de diálogo entre as três gerações, nem mesmo os diálogos em forma de cinema mudo.
– Sempre consideramos que as personagens deveriam falar o mínimo, abrindo espaço para a voz de Helen Palmer. No texto original, ainda permaneceram algumas frases aqui e ali, mas que eliminei na edição. Foi daí que surgiu a ideia de trabalharmos a partir das coordenadas do cinema mudo, utilizando inclusive cartelas no lugar dos diálogos – conta Carvalho.
Os temasO que Clarice escreveu nos anos 50 e 60, fruto do pensamento das mulheres daquela época, segue atemporal na opinião do diretor. A obra da escritora está sempre carregada de subjetividade.
– Ela está explicitamente falando e aconselhando uma mulher a conquistar seu homem. Mas não é só disso que ela fala. Para além, ela trata de amor e de questões universais do ser humano, de conflitos que existem dentro do casamento e de uma relação. Fala também de trabalho, do lugar daquelas mulheres no mundo.
– A grande novidade era o olhar de Clarice sobre aquilo – opina Maria Camargo, responsável pela adaptação.
Quem foi ClariceNascida Haia Pinkhasovna Lispector, Clarice é o nome assumido pela escritora e jornalista quando veio para o Brasil, saída da Ucrânia, sua terra natal. Helen Palmer, Teresa Quadros e Ilka Soares são os pseudônimos que Clarice usou para escrever crônicas em colunas femininas dos jornais Correio da Manhã, Comício e Diário da Noite. Posteriormente, a escritora ficou famosa por obras como A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977).
– Sempre me impressionei com a modernidade das colunas de Clarice, sem falar na linguagem da autora, que fundou uma linguagem híbrida, onde se unem opostos como o real e ficcional. Ela instaurou a feminilidade no jornalismo brasileiro através de um discurso direto com suas leitoras – explica o diretor Luiz Fernando Carvalho.



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